Psicologia e Luto | Viviane Marques

Blog

Psicologia e Luto

Quando se perde alguém é muito difícil encontrar, logo no início, algo que possa ajudar. Na realidade, existe um tempo que deve ser dedicado a permitir viver estas emoções: a dor, a falta, a saudade… Este período é chamado Luto.

Algumas teorias dizem que o Luto tem duração de um tempo determinado, mas estudos mais recentes valorizam este período como relativo, pois pode variar muito dependendo da pessoa e do momento. É importante ressaltar que cada indivíduo possui o seu sentimento e a sua dor, merecendo assim o respeito durante esta fase, que pode durar até mesmo alguns anos.

É muito comum que o Luto seja percebido por outros como Depressão, pois o enlutado tende a ficar mais tempo sozinho, pensativo, triste e até mesmo abrindo mão de hábitos cotidianos, porém, este estado é absolutamente normal para aqueles que perderam alguém querido, e não deve ser tratado como patológico. Ainda que os sintomas sejam semelhantes aos olhos de quem observa, a Depressão apresenta um quadro patológico, crônico, que pode não ter um motivo aparente. Conforme palavras da psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves, especialista em Luto, “As pessoas dizem sem cerimônia que uma pessoa perdeu o filho ou o marido e ‘ficou em depressão’. Ela pode estar muito triste, mas depressão é outra história”.

Ainda citando Elaine, Como as pessoas não sabem o que dizer sobre a morte, acreditam que se não falarem, vão evitar que o enlutado sofra. As pessoas sempre querem falar, a dificuldade está em serem ouvidas. E falar é o que vai ajudá-las a elaborar e a sair do luto mais rápido. Toda a pessoa enlutada precisa falar de quem morreu. Logo que a pessoa morre, o enlutado conta várias vezes a mesma história, geralmente do último dia em que estiveram juntos até o momento em que recebeu a notícia da morte. Quantas vezes você a encontrar, ela vai contar essa história. Esse é o primeiro fator de afastamento dos amigos. Eles pensam: eu vou lá e ele vai repetir isso. Ou vão dizer a ele ou a ela que já contaram isso. Mas é exatamente esse contar, repetidas, inúmeras vezes, que as leva à compreensão. É um recurso muito positivo, muito saudável. O judeus fazem isso: dentro dos rituais de luto da religião judaica a pessoa enlutada nunca fica sozinha, tem sempre alguém do lado dela em silêncio, justamente para ouvir a sua dor. É importante pensar em como não aguentamos ouvir a dor do outro e como não nos preparamos ou preparamos nossos filhos para essa atitude diante do sofrimento alheio”.

O luto possui várias fases que merecem e devem ser respeitadas, porém, após algum tempo, as atividades precisam retomar o andamento e a vida precisa seguir, para evitar que as perdas sejam ainda maiores. Sendo assim, a vida precisa ser redirecionada, adaptada e sentida de uma nova forma. Geralmente, além de lidarmos com a ausência de quem se foi, precisamos lidar com o retorno à rotina e com os sentimentos e preocupações dos outros, que dependendo da forma que são expostos, podem gerar uma carga ainda maior para o enlutado.

A saudade não é algo que passa, mas tem a capacidade de se transformar. Esta transformação depende de vários aspectos e normalmente acontece de forma natural, apenas com o passar do tempo. Alguns momentos são mais difíceis, mesmo depois do choque inicial e readaptação da vida, como todas as primeiras datas comemorativas. Respeitar a si mesmo e respeitar a dor é o principal ponto, mas algumas outras coisas podem ser feitas para que a dor se transforme em saudade e paz, que transforma o sentimento em algo pleno e saudável. O processo psicoterapêutico, além de oferecer um espaço e tempo para reflexão, calma, e silêncio quando necessário, o acompanhamento pode auxiliar com a adaptação da vida e transformação do sentimento dolorido.