Maternidade e preconceito | Viviane Marques

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Maternidade e preconceito

Segundo o dicionário, Preconceito é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento crítico ou lógico.

Infelizmente, a maternidade, que deveria ser considerada a função mais nobre que alguém pode exercer, costuma ser alvo de preconceito em diversos aspectos: No trabalho, no convívio social, entre amigos, no núcleo familiar, na sociedade em geral e até mesmo dentro de casa.

Não conseguimos começar a falar sobre preconceito contra a maternidade, sem trazer dados sobre a desigualdade de gênero no Brasil. Um estudo feito pelo Fórum Econômico Mundial sobre a desigualdade entre gêneros mostrou que o Brasil, dos 144 países presentes no ranking, ficou na 90ª posição. Entre as mulheres em idade ativa no Brasil, apenas 52% participam do mercado de trabalho, enquanto o índice entre homens é de 72% e quando estão inseridas no mercado de trabalho, as mulheres têm renda menor que os homens.

Vivemos em uma sociedade que historicamente definiu papeis diferentes para homens e mulheres e não se ajustou com o passar do tempo. Mesmo legalmente iguais, o papel do homem e da mulher muda muito dentro e fora de casa com relação à participação, expectativas dos outros e valor de cada atividade. O reflexo dessa injusta distribuição de papeis, que não cabe mais nos dias atuais, gera conflitos entre homens e mulheres dentro e fora de casa. O lado positivo disso tudo é que a bandeira está sendo levantada e, mesmo que lentamente, estamos caminhando para um futuro mais equilibrado e respeitoso, em que cada um terá o seu papel definido pela própria escolha e não pelo julgamento da sociedade, cada vez menos influenciados por reflexos culturais.

Hoje em dia a família que engravida tem o direito de licença maternidade de 4 meses e paternidade de 5 dias. Embora existam projetos de lei para ampliar esse período e algumas empresas já oferecerem uma extensão dele, é muito difícil, se não impossível, vermos o mesmo direito ao pai que é oferecido ã mãe. A partir daí, está suposto que a mãe é mais responsável pelos filhos e naturalmente cai sobre ela a função de priorizar os filhos ao trabalho  quando  pensamos em consultas médicas, participação em reuniões de escola, dispondo tempo quando não tem com quem deixa-lo, cuidando em casa quando o filho não está bem e “pensar neles mesmo quando está no trabalho”. Esse pensamento padronizado pela sociedade e não necessariamente verdadeiro, mas bastante lógico se formos pensar na prioridade filhos x trabalho, a idade “fértil” da mulher com ou sem expectativa de ter filhos passa a ser o maior obstáculo para ingresso e manutenção no mercado de trabalho e promoções por mérito próprio. Você percebe a rede que caímos sem querer e parece não ter saída?

Na Suécia, por exemplo, quando nasce um filho, a licença é de 480 dias, sendo 90 dias obrigatórios à mãe, 90 dias obrigatórios ao pai e os outros 300 livres para serem compartilhados entre eles da forma que quiserem. Desta forma, fica difícil a empresa contratante ter espaço para preconceitos, pois além dos direitos e deveres iguais diante do nascimento de um filho, os próprios pais decidem quem e quando se ausentará do trabalho para cuidar do filho. Hoje, aqui no Brasil, além de termos dificuldade para conseguir um emprego nessa fase, sabemos que o risco de sermos demitidas após o nascimento dos filhos é enorme. Por tanto medo, acabamos nos obrigando a ter um desempenho melhor ainda para provar aos outros que os filhos não interferiram na nossa qualidade profissional, como se fosse possível passar por tudo isso de forma equilibrada e sem deixar a peteca cair de nenhum dos dois lados.

Ainda estamos caminhando para uma melhor situação no mercado de trabalho, mas em outros ambientes podemos e devemos nos impor de formas mais respeitosas. Entre amigos e parentes, os pitacos sempre existem e muitas vezes são até bem-intencionados com intensão de ajudar, mas dificilmente cumprem exatamente esse papel. Ter filhos não é uma tarefa fácil e não existe receita fechada, então quando ouvimos certos comentários, é comum que pensemos tantos que acabamos inseguras, preocupadas e muito incomodadas. Uma boa saída quando você não consegue deixar os comentários passearem sem mexerem com você, é usar gentileza e firmeza para deixar claro que você agradece a ajuda, mas está segura naquilo que acredita e que oferece ao seu filho. Estude, leia e conheça os métodos educacionais que você está oferecendo para se sentir mais tranquila, mas seja sua melhor amiga nesse momento e estabeleça seus limites. Quando vierem com conversas inadequadas ou muito fora do que você quer e precisa pensar agora, diga que não é o momento, mas agradece a preocupação. Geralmente as pessoas precisam saber que estão incomodando para parar, assim você preserva as relações e ganha noites mais tranquilas de sono.

Para finalizar, dentro de casa muitas vezes o casamento muda depois do nascimento dos filhos, tanto pela falta de colaboração que costuma acontecer por parte dos pais, quanto pelo peso do dia a dia. Converse sempre! Exponha seu ponto de vista, sugira mudanças na rotina, deixe claro que você precisa de colaboração e também de espaço e liberdade para buscar a sua própria felicidade pessoal. Na maioria dos casos, os homens foram criados para não participarem de algumas tarefas do lar e dos filhos, mas com conversar respeitosas e claras você pode transformar essa realidade dentro da sua casa.

Busque grupos de mães para compartilhar, redes de apoio, pessoas que possam ouvir e falar. Quando nos identificamos com outras histórias, nos inspiramos e criamos novas estratégias para as nossas próprias conquistas.

Lembre-se sempre! Você precisa ter outras fontes de prazer na vida além de seus filhos. Eles são muito novos para carregarem a responsabilidade de te fazerem feliz e você só passará equilíbrio emocional para eles quando estiver sentindo isso dentro de você. Vamos mudar o mundo inspirando as pessoas que estão por perto e criando os nossos filhos para oferecerem sempre o melhor que puderem.. Eu acredito muito nessa geração de pais e de crianças!