Entrevista para a Pais&Filhos: "Culpa, não! Está tudo bem não conseguir fazer mil e uma coisas com o tempo livre da quarentena" | Viviane Marques

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Entrevista para a Pais&Filhos: “Culpa, não! Está tudo bem não conseguir fazer mil e uma coisas com o tempo livre da quarentena”

Confira aqui as perguntas e respostas da minha última entrevista à Pais&Filhos sobre a situação do Coronavírus e o impacto emocional da quarentena.

Em época de coronavírus muito se fala sobre os cuidados físicos. Quão importante é ter esse mesmo cuidado com nosso psicológico?
A atenção psicológica é algo que muitas vezes deixamos para depois, mas não deveríamos. É justamente a saúde mental que nos proporcionará equilíbrio para passarmos por este momento tão desafiador.

Com a pandemia do coronavírus, várias coisas começaram a ser oferecidas gratuitamente: cursos, aulas de ginástica, e por aí vai. Como arrumar tempo para isso?
A oferta realmente é enorme, diferente do nosso tempo disponível. Acredito que o ideal seja buscarmos aquilo que já tínhamos ou planejávamos ter na nossa rotina antes da pandemia. Aceitar tudo o que nos é oferecido neste momento não só é impossível, como acaba nos atrapalhando. Pense em uma coisa e comece por ela. Se sobrar tempo, insira outra. Priorize aquilo que já fazia sentido para você.

Considerando que cada um tem uma rotina e realidade, como entender isso e não se sentir mal por não conseguir seguir o mesmo que sua amiga?
Justamente ao pensarmos na rotina e realidade de cada um, já conseguimos entender que os cenários não são iguais entre as pessoas neste momento, por mais próximas que elas sejam. Cada um tem a sua casa, a sua família para cuidar, a sua rede de apoio disponível ou não neste momento e o seu trabalho com adaptações diferentes. É hora de focarmos naquilo que funciona para cada um de nós e adaptar a rotina, independente do que estão fazendo fora da nossa casa.

A culpa nessas horas é inimiga? Por que?
Neste momento dificilmente a culpa nos ajudará a tomar medidas diferentes das quais já estamos tomando, pois provavelmente cada um já esteja dando o seu melhor para passar por essa situação que veio sem aviso prévio e mudou repentinamente a vida de quase todo o planeta sem que tivéssemos tempo para planejar as adaptações que seriam necessárias. Dê o seu melhor e se conscientize disso, buscando dias amenos e confortáveis para a sua família. Dificilmente alguém viverá dias perfeitos e bem planejados enquanto esta for a nossa realidade.

Como fazer para diminuir o sentimento de culpa?
Nossa maior fonte de informações hoje também pode ser a nossa maior inimiga. O uso de redes sociais nos dá dicas importantes para esse momento e até notícias relevantes, mas também mostra segundo a segundo como outras pessoas estão enfrentando essa crise. Assim como existem as fake news, existem realidades diferentes daquelas que assistimos nos posts dos outros. Da mesma forma que algumas pessoas nos motivam, outras fazem nos sentirmos culpados por não ter criatividade ou vontade de fazer atividades que parecem tão interessantes e divertidas para as crianças, de fazer exercícios e meditação em casa, de preparar cardápios lindos em todas as refeições, criar novas estratégias de trabalho, organizar armários, ler um livro por semana, cuidar da pele, do cabelo e ainda aproveitar para descansar. Tudo isso é relativo e dificilmente acessaremos os bastidores da casa dos outros, então a comparação fica injusta e sem critério. Uma boa sugestão é limitar o uso dos aparelhos durante o dia e as páginas que você visita. Seja por excesso de notícias ou de influências e comparações, procure ser assertivo no uso das redes sociais e dos noticiários. Use o seu tempo para realmente fazer o que importa e aproveitar com a sua família do jeito que vocês podem e conseguem neste momento.

Além dessas questões “a mais”, também tem o sentimento de culpa por não dar conta de tudo em casa: tarefas domésticas, trabalho, filhos. Como fazer para evitar esse sentimento?
Ajustar as expectativas pode ser o melhor caminho. Não espere que da noite para o dia, só porque estamos dentro de casa, o dia terá mais de 24 horas. Muito pelo contrário! Se antes você contava com escola para deixar as crianças, com um restaurante para oferecer uma comida às vezes, uma diarista para ajudar com a limpeza da casa e parques para entreter a família, agora você precisa executar todos esses papéis. Em tempos normais, ficar em casa pode representar tempo de sobra e sossego, mas não é o que está acontecendo agora.
Entenda que há muita coisa para ser feita e aceite que nem todas estarão perfeitas ou sob o seu controle. Não estamos de férias e estamos aprendendo a viver de uma forma que nunca imaginamos, portanto se permita, se aceite e se acolha.

A rotina mudou com o coronavírus. É importante fazer uma agenda/calendário para garantir que faça o maior número de tarefas possíveis?
Talvez o melhor não seja conseguir realizar o maior número de tarefas possíveis, mas as mais importantes neste momento. Enquanto nossas vidas contavam com escola, trabalho fora, finais de semana com passeios e às vezes até alguém para ajudar em casa, as prioridades eram outras. Hoje que você representa todos esses papéis dentro do único cenário que é a sua casa, o importante é priorizar o que realmente precisa ser feito.
Ter uma rotina é importante para que a criança tenha previsibilidade, o que é melhor e mais confortável para ela. Além disso, olhando a rotina toda no papel ou no computador, fica mais fácil inserir tarefas que não eram suas até pouco tempo atrás. É importante que nesta rotina contenha tudo aquilo que você precisará fazer ao longo do dia seja por você, pela casa e pelos outros, assim fica mais fácil se organizar.

Ter essa ferramenta onde se pode “dar um ok” no que vai sendo feito ajuda a diminuir o sentimento de culpa, uma vez que você se dá conta do tanto de coisa que já fez?
Acredito que esse tipo de ferramenta nos ajude não só visualmente a entender a nossa rotina, como nos permite uma certa flexibilidade na medida do possível. Independente do horário que a tarefa for realizada, ela será feita, e provavelmente isso que importa neste momento. Você sabe que precisa trabalhar, dar atenção para os filhos, preparar a comida e fazer aquela aula de pilates online, mas a brincadeira pode durar um pouco mais, a comida pode ser feita um dia mais rápida e outro mais elaborada e assim por diante. Dar os “checks” nas atividades já realizadas do dia também nos dá uma sensação de dever cumprido, de produtividade e conforto, nos motivando a manter a rotina com mais segurança e menos culpa.

Que conselho você daria para as mães nesse momento para evitar comparações: seja com amigos, familiares, colegas de trabalho?
Não coloque mais um peso em uma situação que já está suficientemente difícil. Só você sabe as condições que tem para manter as coisas da forma que você estabeleceu. Este momento não foi planejado e simplesmente as coisas precisam seguir da forma mais próxima que já estávam caminhando antes. Comparar pode fazer com que nos frustremos com a nossa realidade e deixemos mais coisas por fazer, sem motivação. Faça aquilo que lhe cabe, busque as melhores formas de passar por esse momento e se sinta feliz por cada etapa concluída. A medida que os dias passam, vamos nos reencontrando nessa nova configuração e tornando o dia-a-dia melhor. Mas isso só será possível quando estivermos conectados com nós mesmos, focando na nossa vida, na nossa casa e na nossa realidade. Busque o melhor que cabe na sua realidade e se permita se sentir bem com os resultados!

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