Entrevista para a Pais&Filhos: “Birra de criança pode aumentar durante a quarentena: veja dicas para acalmar seu filho”

31 de março de 2020

Como lidar com a “birra” das crianças nesse momento de isolamento social? Respondi algumas perguntas da Pais&Filhos sobre esse assunto e dei algumas dicas muito importantes para te ajudarem neste momento tão intenso com as crianças dentro de casa. Confira!

A birra aumenta em época de quarentena? Por que?

O que costumamos chamar de birra é a falta de controle emocional das crianças diante de algumas situações. Isso porque elas ainda não desenvolveram completamente a parte do cérebro capaz de controlar seus impulsos. Sabendo disso, sim, é provável que essas crises aumentem durante a quarentena porque todos estamos mais intensos emocionalmente ao longo desses dias. O isolamento social também faz com que as crianças se sintam inseguras, sem entender ao certo o que está acontecendo, sentem que a rotina mudou drasticamente, fica entediada, demanda uma atenção maior praticamente o tempo todo, não consegue extravasar fazendo atividades físicas, encontrando os amigos ou brincando em grandes espaços com possibilidades infinitas.

O que os pais podem fazer para prevenir esse comportamento?

Sabendo que a birra é algo que se trata do desenvolvimento cerebral da criança e dos controles das emoções dela, o primeiro ponto a pensarmos é sobre as nossas expectativas como adultos. Saiba que ela não é pessoal, não é contra você, é uma processo de desenvolvimento da criança ao manifestar um sentimento ou uma sensação. Não existe uma fórmula mágica para retirar a birra do comportamento da criança, mas podemos reduzir mudando alguns comportamentos nossos e oferecendo um ambiente de acordo com o que aquela criança precisa.
Mesmo em tempos de quarentena, ter uma rotina ajuda muito a criança, pois ela tem previsibilidade do que acontecerá em seu dia e não será pega de surpresa quando quiser fazer alguma coisa e for hora de fazer outra (e isso pode gerar confusão por ser um tempo parecido com as férias). Esse geralmente é um dos principais fatores que desencadeiam uma crise de birra. Criem juntos uma rotina de acordo com o que a família precisa neste momento e cumpram ela.
Outra dica muito importante é fazer combinados e cumpri-los. Se a criança gosta de ver TV antes de dormir, por exemplo, combine quantos episódios da sua série ela assistirá e vá avisando com um pouco de antecedência antes que chegue efetivamente no final. Assim ela saberá que já está chegando no fim e curtirá se despedindo daquela atividade. Essa dica vale para praticamente tudo que envolve a criança. Mais uma vez a previsibilidade está te dando chance de ter um ambiente mais “controlado”.
Se planeje sobre o dia, se inclua na rotina da casa e deixe tempo suficiente para oferecer a sua companhia integralmente à criança. Isso significa que o tempo que você determinar possível na rotina de vocês, você estará lá sem celular, sem computador, sem televisão e sem tarefas da casa. Pode ser um tempo pequeno por dia, você avaliará isso, mas se conecte integralmente com ela e também vá comunicando aos poucos antes desse momento acabar. Prepare uma próxima atividade que a criança possa fazer sozinha apenas com a sua supervisão. Afeto é uma das coisas que mais nos ajudam a prevenir as crises de birra.

Quando ele acontece, o que fazer para que termine?

Se acalme para acalmá-la, controle o seu comportamento para que ele não seja combustível para o comportamento dela. Acolha o sentimento do seu filho! Já sabemos que a birra não é algo que a criança conseguirá acalmar sozinha, portanto acolha e ajude-a neste momento. Abrace e valide seu sentimento. Diga que entende a frustração dele ou seja lá qual sentimento esteja por aí nessa hora. Acolha e seja firme, sem sair do seu próprio combinado. Diga que entende, ofereça que juntos vocês encontrem uma solução para a situação, mas não permita algo que você não deveria, pois isso será cobrado de você em breve pela própria criança em outra situação.
Durante a crise de birra, acolha e espere a criança se acalmar. Conversas sérias sobre isso devem acontecer em um momento tranquilo, não no meio de uma situação intensa. Algo que ajuda muito nessa hora é vocês terem um cantinho da casa combinado anteriormente que servirá como “cantinho da calma”. Tenham um sinal entre vocês e quando as coisas estiverem chegando em um nível intenso, a criança vai sozinha para esse cantinho e se acalma. Lá podem ter ursinhos, potes da calma, gibis, lápis de cor ou qualquer coisa que acalme a sua criança e que ela queira colocar. Quando ela se sentir preparada, ela voltará, te avisará que está tudo bem e vocês poderão conversar sobre isso. Permita que ela se aproprie dessa calma com o que ela consegue e determine quando se sente melhor. Confie nela e aproveite esses momentos também para aprender e ensinar.

Nessa conversa sobre a a manifestação do comportamento dele, vale explicar que existem muitas formas para tentar resolver os problemas que ele enfrenta e que o seu papel será sempre ajudá-lo com isso. Quando ele se acalmar, poderá contar com você para conversarem e resolverem a situação com muito amor, respeito e compreensão.
Aprender a lidar com frustrações é muito importante para a criança e você sempre será o melhor guia para ela. A sua reação diante das situações, inclusive aquelas que a criança não participa mas observa, servirá como modelo para ela e, a medida que ela amadurece, se apropriará mais de suas reações escolhendo como colocá-las para fora com consciência.

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