25 de Julho: Dia da mulher negra
23 de julho de 2019

A maternidade nos traz muitos desafios e, entre eles, muitas pessoas precisam aprender a lidar com o preconceito para passar adiante uma educação livre e encorajada aos seus filhos. Infelizmente o preconceito ainda existe através de diversas formas e contra diversos grupos na sociedade. Por isso hoje, em comemoração ao Dia da mulher negra, abri esse espaço para um texto escrito pela Regiane Costa, mulher negra e mãe de três filhos: Mariana, Joaquim e Miguel.
Era o primeiro dia de aula do meu filho. Muita ansiedade, grandes expectativas.
Deixei-o na escola com um grande sorriso estampado no rosto. Um olhar inocente, vibrante, de quem anseia por novas experiências, novas conquistas.
Segui para o meu trabalho. Cumpri minha jornada diária e, ao chegar à noite, fui ao encontro do meu filho. Ele já não estava com aquele sorriso de quando o deixei na escola. Sua cabeça estava tão baixa que mal conseguia-se ver seu rosto. Ergui seu queixo, olhei em seus olhos, perguntei o que tinha acontecido e assim ele relatou:
– “Hoje, na escola, um amiguinho escondeu o estojo do outro amigo e disse para a professora que fui eu.”
Eu perguntei: “O que a professora fez?”
Meu filho: “Ela gritou comigo.”
– “Devolve já!”, disse ela.
– “Mas não fui eu, mamãe.”
Fiquei transtornada. Deixei bem claro para meu filho que a atitude da professora foi errada, que ela deveria ter perguntado se foi ele, deveria ter averiguado e que eu iria na escola conversar.
E assim o fiz.
Fiz, apesar de saber que o que tinha impulsionado aquela atitude da professora era, na verdade, o mesmo que impulsionava pessoas a atravessar a rua quando avistavam um homem negro, segurar firmemente suas bolsas nos transportes públicos ou sentar-se em outro assento longe de pessoas negras. Era o antigo e ainda presente racismo.
Não. Eu não disse ao meu filho que a professora tinha tido uma atitude racista. Apesar de conversamos sobre tudo, não me senti segura para afirmar isso a ele. Fui covarde, porque não poderia de maneira alguma correr o risco de ele registrar em seu inconsciente a mensagem ou ideia de que ser negro significava ter predisposição para o mal.
E assim seguimos, resistindo. Na busca por uma nova sociedade, menos desigual, sem base em preconceitos, sem a negação de nossas raízes.
É, nós sobrevivemos. Existimos. Estamos aqui para afirmar nosso valor. E, como pais, sempre valorizamos as conquistas de nossos filhos e os encorajamos a lutar pelo que querem. Sabemos que a autoestima, que se desenvolve ainda na infância, não está relacionada apenas à estética. Para criança, é também questão de aceitação, confiança e se sentir capaz.
Sempre que ocorre um conflito em que nossos filhos se sentem questionados quanto sua capacidade ou aparência, nós conversamos e refletimos sobre o que somos e o que as pessoas pensam de nós.
É importante que nos saibamos o nosso valor.
Ninguém tem o direito de nos dizer o que somos ou deixamos de ser. O que o outro diz sobre nós não nos define, não deve nos definir. O que nos define são nossas vivências, nossas escolhas, nossas raízes, regadas com conhecimento e semeadas onde desejamos brotar de novo.