Coronavírus: Como e o que conversar com as crianças?
16 de março de 2020

Esta provavelmente é a primeira vez que as nossas crianças passam por um momento tão conturbado e delicado mundialmente. Mesmo nós, adultos, temos pouca ou nenhuma lembrança de um momento tão caótico assim. A dúvida de qual o melhor caminho neste momento está em todas as famílias: Exagero ou pânico? Ficar em casa ou sair? Contar para as crianças ou poupá-las disso?
A medida que os dias passam, menos rotina temos e já está praticamente impossível não envolver as crianças nesse assunto. As aulas estão parando, as ruas esvaziando, os eventos cancelando e praticamente não há outro assunto entre as pessoas e até na televisão. Elas já notaram que algo está acontecendo e é este o ponto que não podemos perder.
Muitas vezes com a intenção de poupá-las, deixamos de dizer a verdade ou em um momento de grande preocupação, transmitimos sensações de medo e pânico para elas. O mais sensato neste momento é manter a calma, falar a verdade e medir as palavras e reações. Cuidado para não subestimar a inteligência do seu filho ou achar que ele não será capaz de entender. As crianças compreendem aquilo que é explicado a elas.
O primeiro ponto antes de começar a conversa com os pequenos é saber se eles estão de fato interessados pelo assunto. Algumas crianças demonstram mais curiosidade sobre determinados temas do que outras. A medida que ela se interessa e questiona, o adulto pode buscar palavras adequadas para continuar a conversa enquanto ela estiver interessada.
Além da escolha das palavras, é importante controlar a reação do adulto durante o tempo todo que a criança estiver por perto, não apenas enquanto estiverem de fato conversando sobre isso. Enquanto o adulto mantiver a tranquilidade, a criança estará tranquila também.
Além de respeitosa, a verdade é uma das únicas formas de garantir o controle da ansiedade e confiança. Achar que a criança não entende nada e não conversar com ela neste momento é duvidar da sua inteligência e isso pode aumentar ainda mais o medo dela. Imagine que todos os planos para os próximos dias e semanas foram adiados ou cancelados, de uma hora para outra as aulas da escola estão suspensas, o parquinho está vazio, as atividades da família mudam radicalmente… não precisa ser muito grande para entender que alguma coisa está acontecendo. Mesmo as crianças menores percebem que algo está muito diferente e falar sobre isso é a única forma de tranquilizá-la. No mundo da fantasia muitas coisas podem acontecer e na mente das crianças passam coisas que nem conseguimos imaginar.
Então o que falar efetivamente com elas?
Não estamos de férias. Estamos evitando lugares com mais pessoas para que um vírus seja contido. As crianças sabem desde cedo que vírus e doenças existem. Com certeza elas já passaram por uma gripe, uma febre, uma virose. Simples assim, podemos exemplificar o novo vírus com os outros já existentes e já conhecidos por elas. Mas se eles sempre existiram, por quê esse é diferente? Porque ele tem um formato novo e ainda não temos muitos remédios para combatê-los. O que podemos fazer enquanto os médicos e cientistas não descobrem esse remédio, é tomar cuidado com a nossa higiene. Vamos lavar as mãos com mais frequência, evitar coçar os olhos, boca e nariz e usar um álcool quando precisarmos sair de casa. Existem formas lúdicas para reforçar a segurança e vocês podem aproveitar para curtir esse momento em casa criando músicas para lavar as mãos, fazendo sabonetes coloridos etc.
Outro ponto é importante para conversar com as crianças é sobre os grupos de risco. Existem pessoas que podem ser mais frágeis e não devem entrar em contato com outras neste momento, como os idosos. Muitas famílias estão evitando visitas aos avós das crianças por segurança, mas isso pode preocupa-las muito, achando que está acontecendo alguma coisa e que não querem contar para elas. Uma boa idéia é sugerir que ela ligue por telefone ou vídeo e possa verificar que está tudo bem com eles.
Não precisamos entrar em tantos detalhes, muitas vezes simples respostas são suficientes para acalmá-las e educar sobre vários aspectos. Lembre-se sempre: Enquanto o adulto estiver calmo, a criança estará calma também, desde que ela se sinta respeitada e participando da situação com a verdade. Se a sua criança demonstrar medo, seja otimista e diga que muitas pessoas já pegaram essa doença e se curaram. Provavelmente em pouco tempo as coisas voltarão ao normal.
A verdade é sempre o melhor caminho para evitar desconfianças, medo e educar com valores.